Depressão: a minha melhor amiga

Era meados de novembro de 2016. O ano teria sido maravilhoso, se não fosse uma crise arrebatadora que me deixou paralisada, por mais de trinta dias. Medo, angústia, insegurança, desespero. Não sei ao certo qual sentimento era dominante, qual era recessivo. Mas o fato é que, num mister de sensações, prostrei-me em uma cama e queria fugir.

Um paradoxo meio cômico, não fosse a tragédia que foi vivenciar aqueles dias. Eu tinha medo de dormir. E de acordar também. Queria viver, mas não conseguia. Eu sempre me pergunto o motivo pelo qual as pessoas consideram a depressão uma frescura. Deve ser pelo fato de nunca terem sentido isso na vida.

Eu não queria morrer. Isso era um fato. Assim como não quero até hoje. Venho de uma família depressiva e com alguns transtornos emocionais, que dão um “up” na minha mente. Casos de tentativa de suicídio, “dopação” com remédios tarja preta e uma falta de gosto pela vida, que deveriam receber um troféu, tamanha a força disso em nosso “sistema”.

O fato é que sempre me questionei como é a vida de quem não tem depressão. Nunca consegui sentir isso. Assim como nunca vou saber como é a vida de quem morre de fome, frio. Assim como não vou conseguir entender a realidade de um monte de gente, um monte de gente também não conseguirá entender a minha.

Refleti por anos e anos. Após crises e mais crises. E cheguei à conclusão de que não queria mais fazer parte do “seleto” grupo de depressivos. Queria acordar “feliz”, “disposta”, e me sentir leve. Após o cenário de 2016, em que me enfiei num ciclo medicamentoso, decidi que faria o tratamento pelo estrito tempo necessário. Nem mais. Nem menos. Não queria ter um “efeito rebote”, conforme me alertou o psiquiatra à época.

Decidi, desde então, que olharia para a minha “doença” com outros olhos. Em vez de negar a sua existência, como fiz durante a minha vida toda, por meio de sorrisos falsos e autoconfiança exageradamente fraudulenta, optei por olhar para ela e dizer: ok, somos amigas. Mas, o fato de nós sermos amigas, não te dá o direito de ficar “enfiada” dentro da minha casa o tempo todo.

Com isso, aceitei receber suas “visitas” esporádicas. Sempre que ela vem, eu a recebo. Às vezes a visita dói um pouco. Noutras, ajuda a entender cenários e emoções. Por mais que eu negue, essa amiga tem muito mais a me ensinar do que a corromper. Então, após esse pacto de reverência e privacidade, vamos convivendo com amor e respeito. Cada uma na sua.